A formação de educadores/as do campo diante do contrassenso da BNC-FORMAÇÃO
Palavras-chave:
Educação Básica do Campo, BNC-Formação, Formação de ProfessoresResumo
A BNC-Formação é o documento que objetiva fazer valer os princípios educacionais da BNCC nos tempos-espaços da formação e prática docente, possibilitando que esta Base Nacional Comum Curricular possua maior capilaridade nos projetos político-pedagógicos dos cursos de licenciatura e das escolas básicas. Na medida em que a BNC-Formação está subjugada à BNCC, o papel educativo dos/as professores/as está restrito à reprodução passiva dos fundamentos pedagógicos da BNCC, de modo que os/as educadores/as são destituídos da condição de profissionais críticos na medida em que a BNC-Formação limita as atribuições e possibilidades do trabalho docente às competências apresentadas na BNCC (FRANCO; MASCARENHAS, 2021). Sabendo que a BNCC e a BNC-Formação estão embasadas por uma pedagogia correspondente com a ideologia neoliberal, a qual uniformiza os sentidos da educação e os objetivos da formação docente - o presente trabalho objetiva problematizar as consequências da nova política de formação de educadores/as, trazida pela BNC-Formação, para educação básica do campo. Tal plano de trabalho se torna importante em decorrência das consequências dessa política educacional para a Educação Básica do Campo, principalmente em decorrência do atual contexto de implementação da Reforma do Ensino médio, que dentre as propostas trazidas por essa política encontra-se a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que irá balizar o processo de reelaboração curricular do ensino básico. Tal Base não contempla as particularidades políticas, sociais e culturais detidas pelas Escolas do campo, daí ser urgente pensar as implicações da BNCC para os contextos educacionais campesinos, identificando se elas fortalecem as realidades escolares camponesas ou correspondem com a histórica pauperização da educação básica do campo. O universo empírico a ser explorado neste plano de trabalho estará concentrado na versão final da Resolução que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica, a qual também constituiu a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica. Para leitura crítica deste documento, adoraremos categorias e conceitos utilizados pelos pensadores que problematizaram a formação de educadores/as do campo (BARBOSA, 2012; CALDART; 2011; FALEIRO; RIBEIRO; FARIAS, 2020), bem como teóricos das ciências humanas e da educação que analisaram as implicações dessa política de formação de educadores (COSTA; MATTOS; CAETANO, 2021; FRANCO; MASCARENHAS, 2021; LIMA; SENA, 2020). Podemos concluir que a BNC-Formação reforça o processo de padronização da educação ao impossibilitar experiências diversas no campo da formação de educadores/as, enterrando realidades educativas que retiram da invisibilidade à diversidade sociocultural brasileira (HAGE et al., 2020), e a educação do campo é um expoente desta variedade educacional e de saberes. Ao invés de fomentar práticas educativas emancipadoras, a BNC-Formação opera na opressão na classe docente ao defender uma concepção salvacionista da educação centrada na figura do/a professor/a, desconsiderando os demais elementos que constituem o processo de ensino-aprendizagem, tentando instituir uma subjetividade docente condizente com as premissas neoliberais firmadas em três pilares: conhecimento profissional, prática profissional e engajamento profissional - apontando o/a professor/a como único responsável pelo seu processo de formação continuada e os resultados de sua prática (PEREIRA, 2021).